domingo, 8 de janeiro de 2012

Arruinando a Terra do Nunca

Esta crônica é diferente das outras que escrevi, pois tem ligação com a série "Drinon". Para quem não sabe nada sobre a série, pode ser complicado entender, mas eu tentei escrever de uma forma que todos pudessem compreender. De qualquer modo, boa leitura.



A babá envolveu Danilo com a toalha e levou-o à porta.

— Espere aí — disse ela. — Maria já vem para vesti-lo. — E afagou a cabeça de seu irmão gêmeo, Daniel, para guiá-lo à banheira.

Danilo não esperou meio minuto até que a governanta aparecesse.

— Ah, Daniel, meu querido, você está com frio? Eu demorei muito? — indagou Maria, virando-se para seguir ao quarto de Daniel.

— Mas meu no… — o pequeno interrompeu-se ao ter uma ideia. Para uma criança travessa de cinco anos, era uma ideia genial.

— Como, Daniel? — perguntou Maria, imaginando que o garotinho tivesse tido dificuldade para pronunciar alguma palavra com muitos Ms.

— Mas… — repetiu Danilo, pensativo. — por que eu não posso ficar sem roupa pelo resto do dia?

Maria arfou, atônita.

— Ora, Daniel! — exclamou. — Isso não é do seu feitio! Porém, além da tremenda falta de educação que seria ficar exposto, seu avô, que está muito doente, logo chegará à mansão — eles viraram a um corredor e ficaram diante da porta do quarto de Daniel. — Você precisa estar vestido adequadamente à ocasião — e entraram.

Danilo não gostava do quarto do irmão. Parecia-lhe sem vida, com paredes brancas sem sequer um risco de lápis de cor, um piso de assoalho sem sequer um brinquedo fora do lugar. Exprimia as preferências completamente diversas do gêmeo, que já sabia ler e gostava mais de livros que de carrinhos. Daniel não era de fazer riscos abstratos em lugares inoportunos; desenhava formas geométricas quase perfeitas em cadernos de desenho.

Maria sentou-o na cama do irmão. Dura demais, pensou ele. Não dá para ficar pulando. Ela afastou-se, indo até o closet, e logo voltou com uma roupa que fez Danilo torcer instantaneamente o nariz.

— Não, querido. Essa expressão não será permitida diante de seu avô. Vamos lá, veja que elegante, Daniel — falou Maria exibindo um pequeno terno preto.

Danilo suspirou e seus ombros cederam. Maria vestiu-o com aquela roupa repugnante e penteou seu cabelo. Em seguida, o fez encarar seu reflexo no espelho a porta do quarto — um espelho que ele não tinha em seu quarto porque sabiam que ele o quebraria. Danilo não só torceu o nariz, mas o rosto inteiro. Não havia nem um fio fora do lugar em sua cabeça, e ele não pôde se controlar: ergueu as mãos para arrepiar o cabelo, entretanto, a governanta segurou-as.

— Daniel, o que está acontecendo? — indagou, agachando-se para que seus olhos ficassem na altura da dos dele. — Você deve estar andando muito com Danilo, só pode. — ela o abraçou. — Comporte-se, por favor. Vou buscar seu irmão e seu pai já vem buscá-lo, OK?

Danilo assentiu e voltou sorridente para a — desconfortável — cama.

Antes mesmo que Maria pudesse dar um passo fora do quarto, Denílson, o pai dos gêmeos, apareceu e Danilo ficou convencido de que sua ideia de se passar pelo irmão era de fato genial. O pai estava com uma expressão receptiva, e agachou e abriu os braços para o filho, que correu para ele mais feliz do que em qualquer outro momento de sua infância — pois estava recebendo atenção de seu pai. Ele fechou os olhos, sorriu e suspirou quando Denílson apertou os braços ao seu redor.

Danilo não conseguiria pôr em palavras o que sentiu naqueles poucos segundos de conforto. Era uma sensação nova e boa e ele imaginou que fosse assim que seus amigos deviam se sentir quando as mães os buscavam na escola, que apenas o calor das mãos delas fosse equivalente ao corpo cálido de seu pai. Contudo, ele com certeza saberia descrever seu desapontamento quando ouviu o grito de Daniel.

— O meu pai não! — berrou o irmão, irrompendo do outro corredor. Maria vinha atrás dele correndo.

Denílson começou a olhar de um gêmeo a outro, muito confuso.

— Seu mentiroso! — continuou Daniel, tentando avançar para o irmão, no entanto, Maria o segurou. — Ele é o Danilo, pai!

Denílson fitou o filho e o soltou, visivelmente decepcionado.

— Não acredito — disse ele, e Danilo quis chorar só por ouvir seu tom. — Por que você sempre tenta chamar minha atenção? Eu entendo que é difícil não ter uma mãe, mas você vê o Daniel fazendo o que você faz?

— Não! — trovejou o pequenino, lágrimas incontroláveis saindo de seus olhos. — Mas você nunca olha para mim como olha para ele!

— Cale-se! Você vai ficar de castigo no seu quarto hoje.

Danilo afastou-se do pai, limpou as lágrimas e deu de ombros.

— Eu não queria mesmo ver aquele velho chato.

Denílson ergueu-se furioso e deu um tapa no rosto do filho. Quando viu Danilo tornar a chorar, ele virou-lhe as costas e dirigiu-se a Maria:

— Dispa-o e tranque-o no quarto. Deixe Daniel arrumado. — E saiu do quarto sem olhar para o rosto de Danilo.

* * *

Maria cumpriu as ordens do patrão com dificuldade, já que Danilo não parava de soluçar. Quando deixou-o na porta do quarto, ela não resistiu: pegou o pequeno no colo e começou ela própria a chorar.

— Por que você tem que aprontar, meu amor?

Não houve respostas.

Maria pegou a toalha dele e vestiu-o. Depois, deixou-o sozinho, mas, durante o dia inteiro, os pensamentos estavam voltados ao menino.

Danilo, no quarto, pegou seus brinquedos e chamou seu amigo imaginário para se divertir.

— Você estava chorando? — perguntou o outro; Denílson, era como Danilo o chamava.

O garotinho limpou o rosto e tentou se recompor.

— Claro que não — respondeu, pegando um carrinho. Brincou um pouco, mas olhou novamente para o amigo. — Posso mudar seu nome?

O outro assentiu empolgado.

— Max — decidiu Danilo, pensando em um personagem de um desenho animado de que gostava, porém, achou o nome um tanto inadequado.

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