quarta-feira, 28 de março de 2012

Mulher de fases

Quando chegou da primeira noite à sua casa, Mário adentrou o quarto e encontrou Juliana adormecida. Aproximou-se dela de olhos cerrados. Quando os abriu novamente, estava diante da mulher. Abaixou, tirou os cabelos loiros de sua bela face fina e alva e beijou-a. Virou e dirigiu-se ao banheiro.

Retornando ao lar e seguindo à alcova na segunda noite, Mário deparou com a esposa com os olhos verdes abertos. Foi ao encontro dela tal como na noite anterior e contemplou seu rosto pardo. Posteriormente, virou e dirigiu-se à sala de estar.

Na terceira noite, Mário regressou silenciosamente à residência. Esperava não acordar Juliana. Abriu a porta do dormitório com cuidado e decidiu não entrar. Apenas manteve fechados os olhos por alguns instantes e, depois, contemplou a silhueta do negro corpo voluptuoso dela, seu rosto redondo. Fechou a porta, deu-lhe as costas e fitou o sofá.

Ao chegar da quarta noite, Mário não foi cauteloso e acabou deixando a porta da sala bater ao fechá-la, produzindo um barulho estrondoso. Permaneceu naquele cômodo por mais ou menos 15 minutos antes de entrar no quarto. Felizmente, Juliana dormia. Aproximou-se dela da forma rotineira e observou-a. Beijou seu rosto vermelho e afagou seus cabelos lisos e negros. Os olhos puxados dela foram abertos subitamente. A mulher o puxou para si, desperta por completo, e seus lábios tocaram o pescoço dele. Palavras doces foram ditas, emitidas por sua agradável voz. Juliana convidou Mário a deitar-se a seu lado, no entanto, ele declinou, virou-se e seguiu para a cozinha.

Excessivamente embriagado na quinta noite, Mário não trancou a porta de casa; simplesmente encaminhou-se ao quarto, porém, não conseguia admirar a visão de Juliana. Cores e formas mesclavam-se em sua mente. Voltou-se à sala de estar, deu alguns passos e desabou no sofá.

Mário permaneceu em casa na sexta noite. Sentado no sofá ao longo do dia, estava cansado das novelas, filmes, reality shows. Juliana chamava-o por vezes, trazia-lhe lanches e sentava a seu lado em determinados momentos; não foi um dia feliz. A esposa acariciava seus braços com as unhas grandes, provocando-lhe cócegas, durante um programa bobo de tevê, e isso era bom, mas não o bastante. As pernas de Mário tremiam, ele já não aguentava encarar as paredes. Os cabelos ondulados e castanho-claros da mulher aborreciam-no, roçando em sua pele. O indivíduo observava seu reflexo no enorme espelho da parede a seu lado: frustrado, o rosto enegrecido por olheiras, aparência abatida levando em conta sua idade. Juliana, ao invés disso, rejubilava-se na companhia do marido. Seus olhos azuis irradiavam, a pele branca reluzia. E, embora estivesse acima do peso, era uma moça muito bela. Para Mário, porém, não era o bastante. Por fim, ele ergueu-se e dirigiu-se ao quarto.

Juliana não fez parte de sua sétima noite.